O ano que nunca terminou, para Cacimbinhas, tem a guerra a marcá-lo desde o início, como herança de tempos passados, no Brasil, e de um turbulento 1914, com a “conflagração europeia” – que passaria à História como a Primeira Guerra Mundial.
Internamente, o Brasil permanece envolto em disputas territoriais. Em especial, ao Sul do Brasil, entre Santa Catarina e Paraná, na chamada “Guerra do Contestado”, iniciada em 1912 e tendo por origem o descontentamento de pequenos proprietários rurais, expulsos de suas terras durante a construção da ferrovia entre São Paulo e Rio Grande do Sul. Acentuada com a aproximação da conclusão da obra, que deixa milhares de desempregados igualmente insatisfeitos, a agitação ganha ainda ares místicos, com o surgimento do beato José Maria.
A liderança do “monge Zé Maria” relembra episódio ainda recente na vida brasileira: a “Guerra de Canudos”, no final do século XIX, na Bahia, que assumiu tons messiânicos e terminou em carnificina humana, com a intervenção de tropas do governo federal. Neste 1915, a hipótese de repetição desse drama aterroriza as autoridades.
Cobrado por providências frente ao conflito interno e também ao da Europa, o presidente Wenceslau Brás reforça o envio de tropas para o Sul do País. Já o posicionamento oficial do Brasil sobre a guerra na Europa, que impõe prejuízos à economia nacional, impossibilitada de exportar para os destinos compradores, terá que esperar por 1916, deixando inquietos os proprietários de fazendas de café, principal item do comércio externo.
No Rio Grande do Sul, o mandato presidencial estadual é dividido entre o titular, Antônio Augusto Borges de Medeiros, e o vice, Salvador Ayres Pinheiro Machado. Doente e com constantes afastamentos, o presidente deixa ao substituto uma tarefa que tem exigido cada vez mais atenção: dissidências internas no Partido Republicano Rio-grandense (PRR), que explodem em diversos locais. É o caso da Cacimbinhas dos jovens apaixonados Síria e Juca, onde uma combinação de fatores gera uma crise dramática, de efeitos que chegam à atualidade, a partir do assassinato do senador José Gomes Pinheiro Machado, cometido por Francisco Manço de Paiva Coimbra.
Luiz Antônio Nikão Duarte (Porto Alegre, 1953) é formado pela PUCRS (graduação/1977, especialização, 1982 e doutorado/2012), ESPM (MBA/2002) e UFRGS (mestrado/2007).
Exerce o Jornalismo desde 1975, com passagens pelos grupos DiárioS e Emissoras Associados, Caldas Júnior, Jaime Câmara, RBS, O Estado de S. Paulo, Sistema Jornal do Brasil; pelos Governo Federal e do Rio Grande do Sul; e ainda pelo Congresso Nacional, pela Associação Nacional de Jornais, pela Federação das Indústrias (FIERGS) e pela PUCRS.
Professor (UnB e Uniceub, na década de 1990 e da Unisinos, na atualidade). Participou da antologia Contos de Oficina 21 (Porto Alegre: Edipuc, 1998) e escreveu os livros Redação em RP (São Leopoldo: Unisinos, 2012) e A guerra de Cacimbinhas (Porto Alegre: ComEfeito, 2015).
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