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quarta-feira, 15 de abril de 2020

A Guerra de Cacimbinhas - 23 de abril de 1915, Cacimbinhas, A transferência

Sem perda de tempo, Ney de Lima Costa discute com a comissão municipal do PRR de Cacimbinhas os rumos da política local, dividida entre os que se opõem ao intendente João Maria Barbosa e os que se alinham a ele, num enfrentamento de forças que vem paralisando a administração e fomentando um conflito de efeitos imprevisíveis. Borges de Medeiros e o vice-presidente Salvador Pinheiro Machado, que acompanham a disputa pelos informes do secretário do Interior, Protásio Alves, e pelas cartas de lhes remetem membros de cada facção, esperam do novo juiz que pacifique o partido e torne possível retomar a normalidade da Intendência. 

Chegado há poucos dias, Ney demonstra frustração com a precariedade da vila, cuja população urbana não chega a mil almas – embora se multiplique por dez vezes quando computados os habitantes da zona rural. Ele e a mulher começaram a estranhar pela distância entre a Estação de Pedras Altas e Cacimbinhas, de cerca de quarenta quilômetros, vencidos pelas diligências da família Cabeda, numa viagem desgastante e prolongada em meio às serras da região. 

– Houve um serviço de carros de praça instalado pelo então intendente Silvano Dias Corrêa, em sociedade com Assis Brasil – dissera-lhe o próprio Cabeda ao instalá-lo, à família e à mudança em suas carretas – mas foi suspenso por falta de interesse dos passageiros, pouco acostumados ao uso de veículos motorizados. 

O mesmo Cabeda lhe havia informado que outro cacimbinhense dispõe-se a fazer o trajeto em carro que acaba de adquirir, condicionando-o, porém, à solicitação de clientes, não por horários fixos como o serviço de diligências ou do automóvel que Silvano e Joaquim Francisco de Assis Brasil puseram entre as duas localidades. 

De fato, Francisco Faria Britto acaba de adquirir um Ford 1915, carroceria Torpedo, iluminação elétrica, motor de quatro cilindros e vinte e dois cavalos, ao preço total de três milhões e quinhentos mil réis, divididos em prestações a perder de vista, para o que contou com a ajuda financeira do pai, Ramiro, e do sogro, Francisco de Paiva Coimbra. A firma Leite Nunes & Irmão, de Pelotas, despachou o automóvel num trem da linha Rio Grande/Bagé, que Britto foi receber em Pedras Altas e, depois de um período de aprendizado no seu manejo, capacitou-se a conduzir até a vila e a atender a terceiros conforme uma tabela de preços que estabeleceu, tendo em vista os custos e o lucro que pretende em cada viagem. 

O carro de Britto era a modernidade possível no lugar que acolhia a família Costa. Por vezes, Ney se sente culpado em submeter a mulher e os filhos pequenos a tantas limitações. A própria Percília, razão de ser de sua transferência, o consola, havendo, ainda, uma negociação entre a Intendência e Ramiro para utilização do equipamento que ele dispõe na sua padaria, cuja capacidade geradora de energia pode estender-se às ruas da cidade em substituição à iluminação a gás, ainda dominante. 

Enquanto tal não acontece, os lampiões são a solução e sob sua precária luminosidade o juiz reúne-se com os políticos locais, buscando compreender as razões dos desentendimentos, para emitir sua avaliação em cartas a Borges de Medeiros. Muitas cartas, as mais recentes avançando em críticas a Barbosa, insinuando que sua renúncia é esperada para qualquer momento.

SOBRE O AUTOR 
Luiz Antônio Nikão Duarte (Porto Alegre, 1953) é formado pela PUCRS (graduação/1977, especialização, 1982 e doutorado/2012), ESPM (MBA/2002) e UFRGS (mestrado/2007). 

Exerce o Jornalismo desde 1975, com passagens pelos grupos DiárioS e Emissoras Associados, Caldas Júnior, Jaime Câmara, RBS, O Estado de S. Paulo, Sistema Jornal do Brasil; pelos Governo Federal e do Rio Grande do Sul; e ainda pelo Congresso Nacional, pela Associação Nacional de Jornais, pela Federação das Indústrias (FIERGS) e pela PUCRS. 

Professor (UnB e Uniceub, na década de 1990 e da Unisinos, na atualidade). Participou da antologia Contos de Oficina 21 (Porto Alegre: Edipuc, 1998) e escreveu os livros Redação em RP (São Leopoldo: Unisinos, 2012) e A guerra de Cacimbinhas (Porto Alegre: ComEfeito, 2015).

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