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sábado, 30 de maio de 2020

Indústria farmacêutica acredita em vacina contra coronavírus ainda em 2020


Executivos de farmacêuticas apontam o desafio de produção e logística da vacina; estima-se que serão necessárias 15 bilhões de doses 

Uma vacina contra o novo coronavírus é possível ainda em 2020? Os executivos da indústria farmacêutica são otimistas, mas alertam que os desafios serão colossais para produzir e distribuir bilhões de doses necessárias. Mais de 100 laboratórios de todo mundo lutam contra o tempo para produzir uma, ou várias, vacinas contra o novo coronavírus. 

Destes, dez alcançaram a fase de testes em humanos até o momento. “A esperança de muitas pessoas é que consigamos uma vacina, talvez várias, até o fim do ano”, disse o diretor-geral da AstraZeneca, Pascal Soriot, em uma entrevista coletiva virtual na quinta-feira (29). 

A empresa britânica está associada à Universidade de Oxford para a produção e a distribuição da próxima vacina no mundo todo. Albert Bourla, diretor da Pfizer, que organiza testes clínicos com a empresa alemã Biontech, também acredita em que será possível obter uma vacina antes de 2021. 

“Se tudo correr bem, e os astros se alinharem, teremos testes suficientes de segurança e eficácia para poder ter uma vacina até o fim de outubro”, declarou. 

Vários anos são necessários para colocar uma vacina no mercado, mas, diante da pandemia do novo coronavírus, as vacinas experimentais consideradas seguras e eficazes poderão ser lançadas em prazos recordes. A Federação Internacional da Indústria de Medicamentos (IFPMA) adverte, no entanto, que a produção e a distribuição de vacinas enfrentam desafios “gigantescos”. Um deles, paradoxalmente, é que os índices de transmissão do vírus registrem uma queda rápida na Europa, onde acontecem vários testes médicos. 

Vacina contra o coronavírus 
Estes índices serão muito frágeis para constatar seus efeitos em um meio natural, preocupa-se Soriot, ao destacar que os estudos, nos quais os voluntários se expõem intencionalmente ao vírus para medir a eficácia de uma vacina, não são eticamente aceitáveis no caso da COVID-19. “Não temos muito tempo”, constata. 

O novo coronavírus provocou mais de 360 mil mortes e contaminou pelo menos 5,8 milhões de pessoas no mundo desde seu surgimento na China, no fim de dezembro passado. 

Duas doses por pessoa 
O mundo vai precisar de duas doses de vacina por pessoa, ou seja, 15 bilhões, de acordo com algumas estimativas, um verdadeiro quebra-cabeças logístico, recorda o diretor da IFPMA, Thomas Cueni. 

A indústria farmacêutica se comprometeu a garantir uma distribuição equitativa das vacinas validadas, mas “não teremos as quantidades necessárias no primeiro dia, mesmo trabalhando de maneira extra”, admite Cueni. Quando a vacina estiver disponível, terá de ser colocada em pequenos frascos de vidro. “Mas não existem frascos suficientes no mundo”, constata Soriot. 

A AstraZeneca e outros grupos estudam a possibilidade de armazenar várias doses por recipiente. Já Paul Stoffels, número dois e diretor científico da Johnson & Johnson, afirma que, caso 15 bilhões de doses sejam necessárias, várias vacinas devem ser autorizadas para suprir a demanda inicial. “Todas as vacinas podem não ser adequadas para todos, com base em suas características”, destacou. 

Em particular, porque algumas vacinas precisam ser armazenadas com temperaturas muito reduzidas, o que não é possível em todas as regiões. Embora reconheçam o imperativo de uma distribuição universal da vacina, os executivos da indústria farmacêutica são unânimes em defender a propriedade intelectual sobre suas inovações. “É absolutamente fundamental em nosso setor”, ressalta a presidente da GSK, Emma Walmsley. 

Os laboratórios investem bilhões, sem a certeza de recuperar o dinheiro, alega Soriot. “Isso porque se a propriedade intelectual não for protegida, ninguém terá interesse em inovar”, concluiu.

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