Jéferson (à esquerda) junto ao pai, vítima do coronavírus |
“A última vez que o vi com vida foi no Dia dos Pais ao leva-lo para o hospital. Quando tornei a vê-lo na noite de 24 de agosto, já estava morto e dentro de um caixão lacrado para ser sepultado pouco depois, sem que eu tivesse a chance de me despedir como ele merecia”.
Com essas duas frases, Jéferson Borges, 32 anos, resumiu para o Eu Falei Piratini, a dor da família que, além dele, teve outros seis membros infectados pelo coronavírus em Pinheiro Machado.
O aposentado José Soares Borges morreu aos 57 anos devido à Covid- 19, após 15 dias de internação, a maioria deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital Santa Casa, em Bagé, período em que Jéferson não teve contato com o pai, exceto por um vídeo que gravou e que chegou ao destinatário dado, como ele classifica, ao lado humano da equipe médica que possibilitou ao paciente sentir o carinho e preocupação de seus entes antes de partir.
A morte do progenitor se tornou, segundo o operador de produção, o capítulo mais triste no drama familiar em que ele, o primeiro a se contaminar, passaria a viver devido à doença.
“Adoeci no segundo dia de julho. Tive febre, perda do olfato e paladar. Acabei também contaminando minha esposa Beatriz, que tem a mesma idade que eu, e ainda meus dois filhos, de 10 e 11 anos. A situação piorou quando, em 7 de agosto, o padrasto de minha companheira, Antônio Azambuja, outro que também assim como meu pai, necessitou ser internado na UTI, acabou falecendo por Covid”, relembra o pinheirense que, na tentativa de se recuperar, tomou sob prescrição médica a ivermectina, um vermífugo sem comprovação científica que tenha eficácia contra a doença.
“Eu tomei porque a médica receitou, mas dei, por conta própria, também aos meus filhos”, revela Jéferson, que ainda teve a mãe, Clotilde Correia Borges, de 56 anos, acometida pelo coronavírus.
Curado, assim como os demais que venceram a patologia, ele conta que a dor de ter perdido pessoas próximas é amenizada pelas lembranças que guarda, inclusive em fotos que estão expostas em suas redes sociais.
Feitas em churrascos, elas retratam momentos de felicidade junto ao pai com quem mantinha uma grande amizade, imagens que agora servem de alento diante da tragédia causada pela Covid- 19, a qual ele faz um alerta.
“Eu achava que as pessoas mais velhas, as quais até então eu entendia serem mais fortes, tirariam essa doença de “letra”, mas não é assim. Meu pai, além de ser um homem que ajudava quem ele podia, era uma pessoa cheia de saúde, trabalhava em muitas profissões mesmo após se aposentar, Não tomava nenhum remédio, mas mesmo assim, ela, a Covid, o levou. Essa doença é muito séria e matou não somente o meu pai, mas também meu melhor amigo para quem eu ligava ao final do dia para contar como havia sido minha rotina”, externa Jéferson, que emenda:
“É uma mistura de sentimentos. Mas me conforta saber que ele foi alguém que viveu intensamente. Tinha 57 anos, mas com a energia de 30. Gostava de uma cervejinha, de uma carne assada. Assim entendo que ele foi feliz em sua passagem por aqui, mesmo que brevemente. Tudo o que estamos passando me deixou uma lição que tentei passar a minha mãe: Devemos aproveitar a vida” conclui.
Reportagem: Nael Rosa
Contato: 53- 9-99502191
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