Neco cumpre o que promete a Juca e o prepara para a estreia esperada. Ele ingressa na casa de Nair como velho conhecido que é, instala-se numa mesa a um canto próximo à janela para que possa respirar em meio a tanta fumaça de palheiro e sai aos cochichos com cada mulher que passa entre eles.
Fica quinze minutos nessas conversações, acompanhado a distância pelo olhar do irmão, até retornar acompanhado, mãos dadas com Susana, a jovem que aceitou deitar-se com Juca em troca de alguns mil-réis.
– Oh! Susana, não chores por mim – entoa Neco, numa grosseira imitação de famosa canção norte-americana – colocando-a entre ele e Juca.
– Qual é o teu nome? – pergunta ela para um espantado interlocutor.
– José Antonio, e o seu?
– O meu é Susana. Já deitastes com mulher?
– Só em sonho, mas é tudo o que quero.
– Mas és tão novinho. Não pareces ter mais que dez anos!
– Tenho quase 15, nasci junto com o século, em 1901.
Ela faz contas com os dedos e depois o corrige:
– Se foi em 1901, tens 14 e não 15.
– Eu disse quase 15.
Neco retira-se, o interesse voltado para o seu próprio prazer, despedindo-se de Juca e de Susana com um cúmplice piscar de olho. E o casal vai em direção oposta, ela pronta a seguir a sina que cumpre desde que se deu aos apelos de um rapaz vizinho e por isso foi rejeitada pela família e por ele mesmo.
Mais tarde, os dois irmãos caminham pela madrugada escura da vila, em direção à residência urbana, num silêncio inicial que Neco não consegue manter:
– E então?
– Então o quê?
– Porra, tchê.
Conta aí como é que foi!
– Foi com tinha que ser.
– Foi bom?
– Na hora foi muito bom. Mas depois dá uma ressaca.
– Ressaca? Mas tu nem sabes beber!
– Já tomei uns goles de canha com os peões no galpão do Arroio Grande e
achei muito ruim, tive vontade de vomitar.
– Mas é isso que estás sentindo depois da tua primeira trepada? Vontade de vomitar!
– De vomitar não, mas não sei por que, não consigo parar de cuspir.
– Isso é normal, também mijaste depois?
– Sim. E ela também. Na bacia onde se lavou.
O irmão mais velho espalha sua gargalhada pela madrugada cacimbinhense, orgulhoso de ter propiciado essa experiência ao mais moço. Dá-lhe um pontapé na bunda, retomando uma brincadeira infantil esquecida há mais de uma década, e corre, à frente, aguardando por Juca com a porta da casa de esquina já entreaberta pela atenta Valdelíria, a guardiã dos Farias na vila.
– Vocês se acalmem que ainda é madrugada. Isso são horas de chegar? O que vou dizer aos pais de vocês quando eles vierem à vila?
– Diga-lhes que Juca é um homem e que eu vou cuidar dele para sempre – responde Neco, só agora recebendo de volta o pontapé que havia desfechado no irmão minutos antes.
SOBRE O AUTOR
SOBRE O AUTOR
Luiz Antônio Nikão Duarte (Porto Alegre, 1953) é formado pela PUCRS (graduação/1977, especialização, 1982 e doutorado/2012), ESPM (MBA/2002) e UFRGS (mestrado/2007).
Exerce o Jornalismo desde 1975, com passagens pelos grupos DiárioS e Emissoras Associados, Caldas Júnior, Jaime Câmara, RBS, O Estado de S. Paulo, Sistema Jornal do Brasil; pelos Governo Federal e do Rio Grande do Sul; e ainda pelo Congresso Nacional, pela Associação Nacional de Jornais, pela Federação das Indústrias (FIERGS) e pela PUCRS.
Professor (UnB e Uniceub, na década de 1990 e da Unisinos, na atualidade). Participou da antologia Contos de Oficina 21 (Porto Alegre: Edipuc, 1998) e escreveu os livros Redação em RP (São Leopoldo: Unisinos, 2012) e A guerra de Cacimbinhas (Porto Alegre: ComEfeito, 2015).
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