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segunda-feira, 21 de junho de 2021

RS tem expectativa por nova antecipação de calendário da vacina


Governador entra na "corrida" nas redes sociais, mas especialistas cobram estratégia na vida real 

Após o governador Eduardo Leite (PSDB) prometer, nas redes sociais, novidades na campanha de vacinação contra a Covid-19 no Rio Grande do Sul, prefeitos e gestores da saúde aguardam para os próximos dias uma antecipação do calendário no RS. Em mais uma investida para participar da "corrida" sobre quem avança mais rápido na vacinação, Leite usou o twitter na noite de sexta-feira para avisar que “em breve” trará novidades. 

A "corrida" nacional nas redes na qual o governador vem tentando se inserir tem competidores com fôlego para maratona: foi deflagrada pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), e é protagonizada por ele e pelos governadores de São Paulo, João Dória (PSDB), e do Maranhão, Flávio Dino (vai se filiar ao PSB na terça-feira). 

Entre políticos, a disputa é chamada também de "Corrida 2022", em alusão às eleições do próximo ano, à influência que a pauta "vacina" terá sobre elas e ao papel a ser desempenhado pelos "competidores". 

Dória e Leite pleiteiam a indicação do PSDB para concorrer à presidência da República. Do ex-presidente Lula (PT) ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), também pré-candidatos, todos querem o apoio da nova sigla de Paes, o PSD, que promete, por enquanto, ter candidatura própria. E Dino, que deixou o PCdoB e deve disputar o Senado pelo PSB, é apontado como peça-chave na aproximação do PSB com o PT para a eleição presidencial. 

Ele afirma abertamente a relação entre sua filiação e este diálogo. 

A manifestação de Leite na sexta ocorreu após Paes, naquele dia, ter anunciado um novo calendário na cidade do Rio de Janeiro que causou alvoroço. O prefeito não só informou que todos os cariocas com mais de 18 anos terão recebido a primeira dose até 31 de agosto, como garantiu que os adolescentes entre 17 e 12 anos serão imunizados em setembro. Foi o primeiro anúncio de um calendário sério para adolescentes após a liberação da Anvisa para aplicação da vacina da Pfizer nessa faixa etária. 

No RS, de especialistas em saúde pública a cientistas políticos, o entendimento é de que vai exigir bem mais do que presença nas redes sociais a disposição do governador em entrar na "brincadeira". 

Por uma série de condicionantes, a começar pela forma como a vacinação vem sendo conduzida pelos demais competidores fora das redes. 

Na semana passada, a cidade do Rio chegou à marca de 50% da população total alcançada com a primeira dose. Dória tem o desenvolvimento de dois imunizantes no currículo, um deles o primeiro aplicado no país. E, no Maranhão, já são vacinadas pessoas sem comorbidades com menos de 30 anos. 

O RS tem se promovido como o estado com o maior percentual de população que já recebeu as duas doses da vacina. Mas, além de o número ser ainda muito baixo (inferior a 15%) e cresce devagar (um ponto nos últimos 15 dias), há todo um debate internacional sobre priorizar a primeira dose no maior número possível de pessoas para conseguir frear o vírus mais rápido. 

A estratégia virou o jogo em países como o Canadá e integra o portfólio de Paes, Dória e Dino. Por isto, entre analistas políticos, a avaliação é de que, na vida real, o RS segue precisando fazer o dever de casa no que se refere a pelo menos dois pontos principais: coordenação efetiva do processo e apresentação de números expressivos que possam, nos próximos meses, se transformar em um ativo eleitoral no contexto nacional. 

“Para entrar na briga presidencial, mesmo que só para se firmar como uma alternativa do PSDB a Dória ou ser vice na chapa de alguém, Eduardo Leite precisa passar de governador pouco conhecido no país a liderança nacional em alguma coisa. Já fez tentativas diversas, mas não possui muitas faixas para correr. Tem investido mais na imagem do liberal que faz reformas e privatizações. Na corrida da vacina, para poder dizer ‘sou o primeiro a vacinar todo mundo’, não basta discurso”, projeta o professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Política e especialista em cultura política, Rodrigo González. 

O professor elenca que, para o tucano alcançar a posição almejada, são imprescindíveis a existência de uma estrutura azeitada, tecnologia de ponta e um gerenciamento bem mais atuante. 

“Por exemplo: o governo tem, na ponta do lápis, quantas primeiras e segundas doses de cada uma das três marcas de vacina foram aplicadas em cada município? E em quem? Possui um cruzamento atualizado entre a quantidade de pessoas que há em cada faixa etária e em cada grupo prioritário, de forma a evitar a dupla contagem, identificar distorções e otimizar o processo?”, questiona. 

Na prática, no RS, até este momento, na avaliação de gestores municipais e parlamentares de diferentes partidos, são os prefeitos de cidades de porte variado, e sem uma organização estadual ou regional, que avançaram individualmente na imunização por faixa etária. E nem Leite e nem o prefeito da Capital, Sebastião Melo (MDB), alcançaram a condição de protagonistas do processo, como ocorre com os estados de São Paulo e Maranhão ou a capital do Rio de Janeiro. 

“O Estado, até agora, tem cumprido o papel de distribuir as vacinas. Não há gerenciamento estadual da aplicação. Até pela forma como a saúde é estruturada, isto cabe às administrações municipais”, destaca, reservadamente, um dos integrantes da área técnica da Famurs que atua na assessoria aos municípios. 

O médico especialista em planejamento e gestão em saúde Alcides de Miranda, professor do Departamento de Saúde Coletiva da Ufrgs, afirma que, apesar da insuficiência em termos de volume, se o Estado definisse uma estratégia inteligente, poderia alcançar resultados concretos melhores de proteção. Mas entende que não é o que vem ocorrendo. 

“Quando o governador fala, é muito ponderado, passa bastante segurança, e a impressão de que as coisas vão bem. É uma qualidade que possui. Mas, na verdade, estamos mal. No que se refere a imunização, o monitoramento está mal feito e, por consequência, a estratégia é insuficiente. Os números estão bastante desencontrados. Na Capital, teoricamente a cidade com melhor estrutura, os dados vêm sendo registrados de forma amadorística. O fato é que há muita dificuldade em mapear quem realmente está sendo vacinado”, aponta. 

Miranda traduz críticas que são feitas há meses por parte da comunidade científica à forma como se dá a condução de políticas de enfrentamento a pandemia no RS. 

“Pode ser bom politicamente apostar na estratégia de que tudo depende da imunização porque, em relação a situação epidemiológica, seja em incidência de casos, seja em mortalidade e, agora, em letalidade, o Estado está pior que o país. As informações produzidas pelas áreas técnicas, a começar pela saúde, nem sempre são as levadas em conta na tomada de decisões. E a vacina, nesta corrida que estamos vendo, foi transformada em instrumento de marketing político eleitoral”, avalia. 

Para o professor González, não é de agora que a política ‘pesa’ sobre a pandemia. “No caso da vacina, ficou claro, já na definição dos grupos prioritários, e, depois, na forma como foram sendo atendidos, que houve muito mais uma decisão política do que sanitária”, resume. 

A disputa nas redes sociais 
A corrida da vacina, nas redes sociais, começou em 14 de junho, quando o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), fez referência aos governadores de São Paulo, João Dória (PSDB) e Flávio Dino (então ainda no PCdoB) e suas iniciativas para antecipar a imunização em seus estados. As trocas de provocações bem-humoradas envolvem principalmente Paes e Dória, e acontecem desde então pelo twitter e em anúncios e coletivas de ambos. 


O governador Eduardo Leite (PSDB) se inseriu na brincadeira no dia 15, com um ‘Aí, @eduardopaes’ no twitter, para dizer que, no ritmo atual, ‘a gauchada estará imunizada pra semana Farroupilha.’ Na última sexta-feira, após novo anúncio de Paes, Leite voltou ao twitter para informar que em breve também terá novidades. 

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