Crônicas do Ridgway - Açougue do Bentinho - DiCacimbinhas

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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Crônicas do Ridgway - Açougue do Bentinho

 
Por Ridgway Ávila Veiga 


O açougueiro mais famoso da Rua Barão do Rio branco. Um pequeno grande homem. Um homem calmo e com a paciência de Jó. As mãos mais rápidas que conheci na minha infância e juventude. 

Aquelas facas em suas mãos desfilavam sobre as carcaças dos animais com uma sutileza de dar inveja nas japonesas ou chinesas mais precisas no uso das mãos para praticar massagens. 

Atrás de um balcão, com seu jaleco sujo de sangue, com as palavras corretas tranquilizava os clientes que se aglomeravam no ambiente de espera. Não errava a quantia solicitada, o seu corte era perfeito. Não precisava pesar, mas ele fazia questão de colocar a carne na balança. 

Fazia bem para o ego quando o cliente comentava: - Não era necessário pesar porque tuas mãos são cirúrgicas no fatiamento da carne. Era uma pessoa muito camarada que nas horas de menor movimento gostava de uma prosa. Certa vez a minha mãe me mandou no açougue comprar uns ossos para fazer uma sopa. 

No inverno rigoroso de Pinheiro era muito comum comermos sopa para esquentar as tripas. Quase perto do meio dia cheguei no açougue e pedi ao senhor Bentinho uns ossos para fazer sopa. Ele correu na geladeira, na parte de baixo onde colocava os restos das carcaças dos animais, pegou uns enormes ossos e passou pela serra e colocou-os na balança. Quando eu vi aqueles ossos totalmente pelados. 

Disse para ele: - Esses ossos estão totalmente pelados, não vou levar. A agilidade que ele tinha com aquelas facas era tanta que conseguia limpar todas as carnes dos ossos. 

– Ele disse: menino não pediste os ossos. Ossos são ossos. Quando cheguei em casa, a minha mãe perguntou. – Onde estão os ossos que te mandei comprar? Os ossos estavam totalmente pelados. Não somos cachorro para roer ossos. 

A minha mãe disse: - volta lá e pega os ossos. Não são para roer e sim para dar gosto na sopa. 

Quando cheguei no açougue novamente, ele deu um sorriso e disse: - não precisa pagar pelos ossos, é um presente que dou para tua mãe. O dia que descobrir que o tutano dos ossos é que faz a diferença na sopa, vais me agradecer. Pedi desculpa e fui embora. Ele era uma pessoa muito especial e um ótimo comerciante.

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