A falta de chuvas volumosas na região da Campanha tem afetado produtores de diversas áreas. Um dos locais afetados é o entorno do Rio Camaquã. Ainda que a chuva registrada no último final de semana tenha colaborado para a recuperação parcial do nível do rio, a precipitação ainda não foi suficiente para mitigar os prejuízos causados ao longo da estiagem.
A reportagem do jornal Folha do Sul ouviu algumas pessoas que moram e têm propriedades no entorno do rio para saber a real situação. Todos concordam que o nível do Camaquã antes da chuva estava muito baixo.
"Antes da chuva estava extremamente baixo, com muito limo e o curso bem estreito. Mesmo assim, ainda fornecendo água para a nossa região, pois é o único curso de água que não 'corta' nas secas", afirmou Márcia Colares, que integra o grupo de União Pela Preservação do Rio Camaquã e vive na região.
Ainda conforme Márcia, chegou a se buscar a possibilidade de que o Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (DAEB) fornecesse água para os moradores daquela região.
"Os arroios que alimentam o Camaquã na nossa região estavam praticamente todos com o curso interrompido, 'cortado', os mais fortes ainda tinham poços com água parada. A situação estava crítica, tanto para os animais quanto para as pessoas. Inclusive a nossa associação, AGrUPa, através da presidente, Vera Colares, já estava buscando abastecimento com o caminhão-pipa do DAEB para alguns moradores", relatou.
A presidente da Associação para Grandeza e União de Palmas (AGrUPa), Vera Colares, lembrou que o nível do rio estava muito abaixo do normal, prejudicando o curso de água que é a salvação para muitos produtores, principalmente da região de Palmas.
"O Rio estava baixíssimo. Muita gente não tinha mais água para beber e dar para os animais. As cacimbas secas. O Rio é a salvação para muitos nesses períodos de escassez.
Foi o que tem relatou o produtor rural Rafael Colares, que possui propriedade próxima ao Rio Camaquã. Ele relembrou que o nível de água estava parecido com o apresentado em 2020, quando as chuvas também foram escassas. "O nível estava baixíssimo, assim como em 2020", relembrou.
Entretanto, a chuva registrada no último final de semana ainda não foi suficiente para recuperar o Rio.
Conforme os moradores da região, a chuva ultrapassou a marca dos 120 milímetros em muitos lugares. Porém, como o solo estava seco e a chuva foi manda, a terra absorveu a água antes que ela atingisse os reservatórios.
"Foi uma chuva calma. A chuva para juntar água em sanga, açude, rio, arroio, seja onde for, tem que ser de pancada. Tem que ser aquela chuva que em meia hora, 20 minutos chove 40, 50 milímetros. Que a água bate na terra e corre. E o nosso relevo favorece isso, os campos são dobrados", explicou Rafael.
O que foi recuperado de forma significativa é o campo. Como o solo absorveu a água, rapidamente a paisagem de Palmas voltou a ficar verde.
"Após a chuva, como num passe de mágica, o campo nativo reage imediatamente. Essa é uma característica fabulosa do campo nativo, essa capacidade de 'verdear' de um dia para o outro e se cobrir de flores, logo após a chuva. Claro que precisamos de mais chuva, de preferência com intervalos curtos, pra abastecer as reservas de água e manter a água no solo, mas na região de Palmas veio uma chuva muito boa, numa média de 100 a 120 milímetros", relatou Márcia.
Antes da chuva, alguns açudes praticamente já não tinham mais água, como aconteceu na localidade da Toca. Além disso, o limo tomou conta do entorno do rio. Em outros pontos do Camaquã "praias" foram formadas com a areia acumulada ao redor da água, como é o caso do trecho do rio que corta a BR 153.
Para se ter uma ideia do quanto o rio baixou basta observar o percurso da Descida do Camaquã, que aconteceu no final de fevereiro. Os remadores precisaram encurtar trecho percorrido em seis quilômetros, já que não havia água suficiente para a segurança das embarcações.
Perdas
Quem vive do rio Camaquã teve algum tipo de perda nesta estação. Márcia conta que os campos estavam secos e já faltava alimento para os animais, que em alguns casos, não sobreviviam.
"A seca trouxe sim muitos prejuízos para os moradores da região de Palmas, pois os campos estavam secos, pareciam palha seca, assim os animais não tinham o que comer e com a dificuldade de encontrarem água, acabavam caindo em sangas e atolando em açudes quase secos, alguns morrendo por causa disso, quando não encontrados a tempo pelo proprietário ou algum vizinho", afirmou.
Isso deve resultar em animais mais leves. Rafael comparou a situação atual com o verão de 2020. "As vacas não repetiram cria ou falharam, os terneiros eram leves", relembrou.
Agora a preocupação é com o fim do verão. Esta é a época em que os produtores começam a plantar a pastagem de inverno. Sem chuva, elas não se desenvolvem.
"Estamos preocupados com a situação dos animais, faltando menos de um mês para o fim do verão, os campos secos, a chuva vem mas o pasto está tão seco que demora muito para recuperar, isso se continuar chovendo. O governo também poderia fazer algum programa de distribuição de sementes de pastagens de inverno. Estamos na época de plantar para enfrentar o inverno", sugeriu Vera.
Solução
Para a estiagem, não há outra solução além da chuva. Mas algumas ações podem amenizar os prejuízos causados aos produtores. É o que defende a presidente do AGrUPa.
Vera lembrou que em algumas ocasiões foram liberados financiamentos para compra de alimentos para os animais com melhores condições de pagamento. Também foram doadas toneladas de trigo.
"Então um financiamento a juros zero, com prazo longo para pagamento, possibilitaria compra de alimentos. O governo também poderia fazer algum programa de distribuição de sementes de pastagens de inverno. Estamos na época de plantar para enfrentar o inverno", pontuou.
Outro ponto abordado foi a construção de açudes e poços artesianos. "Um poço poderia servir mais de uma residência, inclusive", destacou.
Mas, segundo Rafael, também falta a conscientização dos produtores rurais. "Sabem que a previsão é de seca, não fazem açudes, não consertam os açudes que têm, não fazem cisterna, não limpam a sua cacimba. Aí, quando começa a faltar chuva, tá todo mundo berrando", criticou.
O produtor também mencionou que existe uma cultura na região de criar animais acima da capacidade do campo. "Sabem que naquele campo não cabem 50 reses. Eles colocam 60, 70", censurou.
Rafael também destacou que é necessário criar animais abaixo do limite. O raciocínio é simples: quanto menor a quantidade de gado, os terneiros serão mais pesados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por comentar.
Lembre-se que o comentário passa por análise do editor do Blog.
Informo que comentários ofensivos não serão publicados, principalmente os anônimos.
Para garantir que seu comentário seja aprovado, uma boa dica é se identificar.