A Associação de Municípios da Zona Sul (Azonasul) realizou, na manhã desta segunda-feira (9), uma reunião com prefeitos e representantes dos municípios e órgãos competentes para tratar sobre a estiagem na região. No momento, cinco municípios já decretaram situação de emergência, mas o número deve chegar a pelo menos 11 nas próximas semanas.
Conforme dados apresentados pela Emater/RS-Ascar, o prejuízo em muitos municípios já é irreversível, fazendo com que as autoridades precisem debater estratégias para reduzir os efeitos da falta de chuvas. Apenas em Piratini, o valor da perda nas culturas de soja, milho, tabaco, bovinos de corte e ovinos já ultrapassou os R$ 100 milhões.
Dentre as principais pautas apontadas pelos representantes dos municípios estão o atraso no repasse de recursos do programa Avançar, a falta de equipamentos e veículos para cumprir o abastecimento, problemas nas escavações de poços e problemas nas coberturas oferecidas pelas seguradoras a produtores que registram perdas nas culturas.
O vice-prefeito de Herval, Celso Silveira (Progressistas), reforçou os desafios para auxiliar os pequenos produtores sem os recursos destinados pelo Estado.
“O recurso chega lá em junho, aí já veio a chuva, encheu as poças, encheu os açudes, não tem nem como limpar os açudes, principalmente do pequeno produtor, porque o grande produtor ele coloca máquinas, ele paga, financia, ele tem máquina. E a nossa maior preocupação agora, o maior problema que nós temos agora, é na agricultura familiar”, expõe.
Rui Carlos Peter (União), prefeito de Arroio do Padre, também citou as dificuldades do município quanto à perfuração de poços e liberação de recursos.
“Segunda, quarta e sexta-feira nosso caminhão adaptado tá fazendo entrega de água, às vezes de forma desumana, porque a gente precisa entregar essa água [com] os servidores da secretaria de Obras. A gente vive uma peculiaridade porque a gente não tem uma barragem no nosso município”, reforça.
Sobre o problema com os poços, ele conta que perfurações demoram a obter sucesso.
“Furamos dois nesse último ano e não deram água, então a gente também vive esse problema, dessa empresa que vem furar nosso poço artesiano e perfura com poucos metros”, explica.
Além da representação da Emater, a Defesa Civil Estadual também contribuiu na agenda com a participação da major Vanessa Wenitt, da Coordenação Regional, e do próprio coordenador regional Marcio Faccin, este último presente de forma virtual.
Em sua fala, Vanessa destacou a disponibilidade do órgão para atendimento dos municípios, bem como reforçou alguns obstáculos encontrados pela própria Defesa Civil.
“Nós estamos enfrentando uma dificuldade a nível de União, em função da mudança das secretarias, então essa burocracia, por mais que a gente agilize, e os senhores sabem que nós estamos sempre em contato com os senhores através das Defesas Civis municipais, às vezes a gente esbarra nesse processo. Trâmites que a gente tem 10 dias, a gente faz em cinco, mas tranca lá com relação a essa situação que ainda não está normalizada”, pontua.
A reunião contou ainda com participação virtual de Ronaldo Santini, secretário de Desenvolvimento Rural do Rio Grande do Sul, que reforçou o compromisso do Estado em modificar o processo burocrático para agilizar a liberação dos recursos do programa Avançar, uma vez que muitos municípios chegam a ser aprovados para a verba, mas recebem a quantia designada meses após o início do problema.
O próximo passo da Azonasul será reunir todo o material encaminhado pelos municípios para criar um relatório que será encaminhado ao governador do Rio Grande do Sul.
“Já passamos parte dessa demanda ao secretário Santini, secretário de Desenvolvimento Rural, que é a questão do licenciamento, a facilitação do licenciamento ambiental pra preservação de água pra irrigação, a questão de poços artesianos, nós precisamos de uma política que de fato chegue aos nossos municípios com eficiência, porque nós sabemos a dificuldade de encontrar água na nossa região”, explica o presidente da AzonaSul e prefeito de Cerrito Douglas Silveira (Progressistas).
Para isto, ele sugere a realização de um estudo geológico por parte do governo do Estado. “Porque hoje nós estamos perfurando oito, 10 poços para encontrar um poço com água”, indica.
Quanto aos problemas com as seguradoras, Silveira ressalta a necessidade de diálogo com as empresas para garantir maior assistência aos produtores.
“Vários produtores já nos procuraram. Na safra passada nós tínhamos uma cobertura de seguro, cito a nossa região Cerrito, Piratini, Pedro Osório, de até 35 sacas por hectare, se custeava 70, 80% com o seguro. Hoje, isso baixou pra 24 [sacas]”.
Silveira explica que a cobertura passou para cerca de 70% dessas 24 sacas.
O exemplo citado pelo chefe do Executivo de Cerrito leva em conta a seguradora do próprio Banco do Brasil pois, segundo ele, em outras empresas a redução é ainda maior.
“As seguradoras particulares estavam com uma cobertura de 16, 15 sacas. Então se torna inviável e nós tivemos vários casos de produtores que não conseguiram acessar o crédito rural com as instituições financeiras, seja Banco do Brasil, Sicredi, Banrisul ou Caixa Econômica, ou outros bancos, por não terem conseguido acesso ao seguro rural”, conta.
Em Cerrito, 140 famílias têm recebido o abastecimento fornecido pelo município.
O prefeito ressalta que este é um dos maiores números do município, ainda atrás da seca histórica entre 2019 e 2020. O município deve decretar, ainda nesta semana, situação de emergência.
“Temos grandes prejuízos na questão do milho, especialmente no milho silagem, para questão da alimentação do gado de leite, nós temos problemas na produção de leite, o leite sendo não recolhido pela empresa de laticínios por baixa densidade, por falta de alimentação de qualidade para os animais e nós temos um problema sério que está começando a se intensificar na questão da soja”, completa.
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