Crônicas do Ridgway - Viver ao relento - DiCacimbinhas

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segunda-feira, 24 de junho de 2024

Crônicas do Ridgway - Viver ao relento



Por Ridgway Ávila Veiga

Eu sou um andarilho que vive perambulando pelas cidades, como todos sabem o meu teto é coberto de azul quando o mestre rei aparece para dar uma espiada para saber se estou bem. Me alimenta com seus raios de luz e me aquece durante o dia. Eu lhe agradeço todos os dias por não me cobrar nada por isso. À noite ele se vai, mas não me abandona, deixa em seu lugar a bondosa lua. 

Ela gosta de brincar de esconder comigo. As nuvens durante o dia são a maior pintura que apreciei. Com suas figuras hora branca como a neve, hora escuras como a sombra. Já vi pinturas por este mundo todo, mas nem uma é igual àquelas que sobre o azul do céu as nuvens pintam. As imagens dependem de quem as vê. As figuras são imaginárias e depende daquilo que cada um quer ver. 

A noite a lua se esconde para que eu possa ver as estrelas lá nas alturas piscando para mim. A lua é minha eterna namorada, aquela que compreende minha dor. Ela é bondosa, protege meus olhos que são castigados pelos reflexos dos raios nos asfaltos que tomaram conta das cidades e estradas. 

Quando deito sobre a grama verde, já molhada pelo orvalho, ela surge para brincarmos de esconder. Some no meio das nuvens negras e depois surge novamente e ilumina o meu rosto com uma luz tênue como estivesse me acariciando com seus olhos. 

Assim ficamos até eu cair no sono e sonhar com as coisas maravilhosas da vida. Quando as nuvens negras somem, a lua diminui seu brilho e as estrelas aparecem para me proteger. Acordo no raiar do dia quando o sol surge no horizonte, manchando de vermelho o céu azul. Mas tem dias que o sol não dá a graça e nuvens carregadas cobrem o céu de um negrume que dá medo. 

A chuva desce com muita energia e maltrata quem vive na rua. Procuro abrigo em lugares que não sou bem visto e me maltratam com olhares de mau gosto. Nunca precisei roubar, mas já fui desprezado por muitos, mas nada disso me abala. A rua me livrou do estresse do trabalho, aquela pressão infernal estava acabando com os meus nervos. Era uma luta desigual entre os poderosos e os mais fracos. 

Quanto mais trabalhava, mais meta teria que cumprir. Casei com a empresa e me desquitei da família. Defendia aquela empresa como fosse minha, mas um dia me chamaram do departamento pessoal e foi naquele momento que nunca mais trabalharia para ninguém. 

Com o dinheiro que ganhei percorri o mundo e descobri que o ser humano sofre em todos os lugares. Felicidade é uma palavra que só existe no dicionário, porque ninguém consegue encontrá-la, nem aqueles que são poderosos. Quanto mais tem, mais sofre. Assim é a vida. Não tenha pena de mim, só desejo respeito.

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