Crônicas do Ridgway - O Circo - DiCacimbinhas

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sexta-feira, 17 de abril de 2020

Crônicas do Ridgway - O Circo

Por Ridgway Ávila Veiga‎ 

Do outro lado da avenida dos eucaliptos, os caminhões descarregavam uma parafernália de equipamentos, enquanto a gurizada corria atrás de uma bola, no cimento marcado pelas linhas brancas a seu redor. 

De vez em quando, a bola ultrapassava a cerca e atravessava a avenida em direção a movimentação no terreno baldio. Grades fortes mantinham os leões presos, cachorros enfeitados saltitavam dos caminhões. O elefante rugiu forte anunciando a chegada ao novo destino. Homens e mulheres corriam de um lado para outro carregando seus pertences. 

A grama verde que cobria o lugar foi aos poucos transformada em peneira de tantos buracos feitos pelos instrumentos de corte. O sol, como fosse uma tocha, iluminava de longe indicando a chegada da noite. A lua cheia foi descoberta pelo movimento das nuvens no céu. Algumas luzes se acenderam quando a escuridão varreu de preto o terreno completamente coberto por bugigangas, animais e pessoas de varias nacionalidades. 

Os gritos desbancavam o silencio, que invadiam à noite. Pela manhã as lonas coloridas subiram apoiada por dois grandes mastros. Cordas eram esticadas e estacas sustentavam a pressão do pano que cobriria o picadeiro e as arquibancadas onde receberiam a parte mais importante do espetáculo. O animal mais forte da África se rendia a um pequeno pedaço de corda presa a um misero pedaço de madeira cravada no chão. Um auto falante grudado a cabine de um velho caminhão, que puxava um reboque com as atrações, circulava pelas ruas empedradas de Pinheiro Machado anunciando o maior espetáculo da terra “O Circo”. 

Sábado à noite, uma procissão se aglomerava pela Rua Dr. Barcelos em direção ao tão anunciado espetáculo que ocorreria sobre aquele pequeno pedaço de chão coberto pelo um domo de lona. 

A Fila se espichavam pelo pátio abaixo para comprar o bilhete de entrada e uma fila enorme para entrar no portão de acesso as cadeiras e as arquibancadas. Os trapézios balançavam no alto a espera dos trapezistas enquanto as pessoas se acomodavam em seus lugares. Os vendedores de pipoca serpenteavam a multidão para atender os chamados que eram muitos. 

A música de apresentação suaviza os ouvidos contaminados pelo burburinho da multidão. O apresentador divulga o elenco e faz suspense da apresentação principal. Os palhaços entram no picadeiro, para o delírio da multidão, com suas brincadeiras resgatam o espirito de criança que se encontra amordaçada no fundo das almas daquela multidão. As gargalhadas vindas das cadeiras, arquibancadas contaminam ainda mais os reis da alegria. Esta é o maior incentivo para o palhaço. 

- O espetáculo não para. Gritou, através do megafone, o locutor. Os cães adestrados entraram em fila no picadeiro, orientados por um bastão que uma bela jovem, com roupas carregadas de lantejoulas, carregava em uma das mãos. Ela demostrou as incríveis acrobacias que os animais, vestidos com cores brilhantes, foi capaz de realizar. 

Os trapezistas que se posicionam nos trapézios a mais de dez metro de altura, sem proteção, voaram como fossem pássaros. Arriscavam suas vidas quando eram projetados ao ar por mãos que confiavam em outras que iriam agarra-las. 

Os palhaços voltavam ao picadeiro para desfazer toda a tensão que estava acumulada em cada músculo das pessoas mais sensíveis. Precisa ter sangue frio para manter o corpo relaxado. 

Os malabaristas desafiavam a física para manter vários pratos girando ao mesmo tempo. Varias bolas subiam e desciam sendo comandadas por mãos extremamente habilidosas. Até mulher barbada era atração no mesmo palco onde um elefante entrava com seus passos largos carregando uma jovem sobre sua cabeça. Ela solicitava ao animal que a descia com ajuda da tromba e era colocada sobre a terra fria para que o elefante colocasse sua pata sobre o corpo franzino da menina. Com palavras orientava o mais temido animal da África a caminhar sobre seu corpo sem pisoteá-la. Mulheres presas a roda giravam em quanto as facas se enterravam na madeira que por um triz não se alojavam no seu corpo. Os palhaços voltam ao palco e fecham o espetáculo com o sentimento que deram tudo de si e forma reconhecidos pelo seu trabalho. A felicidade do elenco e saber que as mesmas mãos que acariciam também aplaudem o espetáculo. 

O espetáculo terminou por hoje, mas continua latejando nas cabeças das pessoas.

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